Técnica da Grande Traíra
Basicamente, a “Técnica
da Grande Traíra” se resume a “eleger” um local como a morada da grande traíra
(vegetação densa e perene, rasante...) identificar o local mais próximo a este
que seja raso e cercado de vegetação favorável para o ataque de uma isca
artificial, “apoitar” o barco (é pouco provável que este local esteja ao
alcance de um lançamento da margem) em um local desfavorável (vegetação errada
como apenas o capim “braquiára”, ou fundo demais) que nos permita lançar no
local do ataque. E ficar lançando até que escureça e “o bicho” venha fazer
nossa alegria. Falando desse jeito até parece fácil... Em outras palavras, a “Técnica
da Grande Traíra” é a excelência de lugar, trabalho de isca, e momento;
objetivando pescar uma traíra que, de outra forma, estaria fora de nosso
alcance.
A leitura das
águas é primordial, pois de nada adianta tanto esforço se não for para botar a
isca na cara do peixe. Você não vai pegar uma traíra maior ou menor do que
aquela que está naquele local!
Quando escurecer
de vez, a única hora em que uma traíra ficará rodando (se houver alguma
luminosidade ainda será possível que ela rode, mas só embaixo de vegetação bem
fechada e na sua sombra), lançar sempre no mesmo lugar, onde for mais
promissor, despertará a atenção da predadora (pelo “pop” da isca caindo na água
e pelo “rattling” – chocalho), exigindo sua atenção para uma potencial invasão
de seu território, além de facilitar que ela se posicione para dar o bote.
Isto de arremessar
no mesmo local é necessário porque a traíra estará em um local com muita
vegetação e longe de nossas iscas! Temos de chamar sua atenção!
Uma outra função
dos repetitivos “pops” é afastar os lambaris daquele local, forçando “nosso
objetivo (a grande traíra)” procurar um pouco mais por comida. Ajuda, portanto,
se já estivermos lá antes que escureça completamente (ou mesmo ao pôr do sol,
antes do fim da “hora da mosquitada”, quando os lambaris irão se esconder na
vegetação), pois estaremos treinados ao lançamento que deverá ser feito quando
não mais pudermos enxergar onde estaremos lançando (se você estiver enxergando,
é porque ainda está claro), e afastaremos as potenciais presas, deixando a
traíra de barriga vazia e mais receptiva à isca. Botar uma isca a 1 m (ou menos) da vegetação,
reiteradamente e sem enxergar, exige muita habilidade! É um desafio!
Se chegarmos de
barco depois que escurecer de vez, não acertaremos o lançamento (a menos que
você use a “força, aquela do filme Star Wars” kakakaka!) e estaremos espantando
a traíra que acabou de “acordar”. Observe que ela pode estar desacostumada a
sair de baixo da vegetação, mesmo na escuridão, o que significa que lançamentos
precisos e um trabalho lento podem fazer a diferença (a velocidade ideal de recolhimento
também deve ser memorizada).
Fique em
silêncio, não faça nenhum barulho que permita ao peixe saber que você está lá,
e evite qualquer iluminação (até mesmo um cigarro aceso, acender a luz do
relógio, objetos fluorescentes ou de cores claras...), exceto para tirar o
peixe. Use roupas bem escuras para evitar que o peixe o veja e refugue. Não
preciso dizer que qualquer luz, ou barulho que não seja a isca caindo na água,
denunciará nossa presença, por isso, não estrague o pesqueiro! Aprenda a trabalhar
no escuro mantendo a tralha em ordem.
Para melhores
resultados na escuridão absoluta, quando não estaremos enxergando (às vezes não
dá nem para enxergar a vara na nossa mão), recomendo o uso de um barco pequeno
posicionado antes do momento em que tudo escureça de vez (aí, tudo deve estar
parado, exceto a isca). O barco pode ter âncora ou ser “travado” na vegetação;
para isto, use o remo energicamente, com o peso para trás e sua proa ficará
meio presa na vegetação, e sua popa, a melhor parte do barco para ficarmos por
ser mais larga, ficará em direção a água.
Pode-se amarrar
o barco na vegetação, sendo um chumaço de capim “braquiára” a melhor amarra.
Cuidado para não bater no barco. O barulho de um remo dentro da água batendo no
barco soará como um estrondo, espantando os peixes. Posicione o barco em um
local fundo o suficiente para não ser promissor (ou com vegetação inadequada,
por exemplo, a “braquiára”) e lance em direção ao local promissor, isto evita
ser percebido pelo peixe.
Se não tiver
barco, não fique triste! As traíras costumam “patrulhar” a vegetação (apenas na
escuridão) e podem ser pegas de qualquer lugar, bastando, para isso, paciência.
Novamente, atirar no mesmo lugar costuma atrair as predadoras (processo
conhecido como “prospecção, isto é, atrair o peixe para onde nós o queremos”,
funciona com outros peixes predadores também).
Evite acender
uma lanterna, a menos que seja para tirar o peixe da água, evite iluminar por
pouco que seja o local promissor. Para quem enxerga bem com luz de estrelas,
uma lanterna...
Preste atenção
ao que acontece ao seu redor! Ocasionalmente, uma grande traíra (supostamente
de barriga cheia e voltando para seu local de descanso) passa ao largo; sendo
percebida pela sutil, mas característica perturbação criada na superfície da
água. Ela toca gentilmente a superfície com o dorso (especialmente em um
rasante), pois nada vagarosa e distraidamente, e faz “ondinhas” que nos dizem
para que direção ela esteja indo. É só jogar a isca depois dela e fazê-la
passar na sua frente.
Como já foi
dito, se a isca passar na sua cara (distância inferior a 1 metro ) e parecer viva e
em dificuldade (uma presa fácil), ela não negará um bote. Interessante comentar
que apenas após estarmos na completa escuridão por mais de uma hora, é que
devemos nos abalar com esse tipo de movimento ao largo, caso contrário, a menos
que seja típico, será apenas um outro peixe qualquer, ou ainda um morcego que
bebe água.
Uma das coisas
que fazem essa técnica ser de difícil execução é a escolha do momento, pois a
nebulosidade (neblina) parece ter aumentado de uns tempos para cá, tornando-se
regra (por causa do aquecimento global), agravado pelo uso extensivo de luzes
de mercúrio (umas meio-vermelhas, que provocam clarão ainda maior). Quanto mais
quente, quanto menos nuvens, e quanto menor a umidade relativa do ar, menor
será a nebulosidade.
Acompanhe o halo
que se forma ao redor de uma luz de um poste (se estiver na cidade) ou o clarão
no horizonte que ilumina o local de pesca (conforme explicado anteriormente...).
Se você estiver
pescando neste local de intensa vegetação e sentir uma “batidinha” (uma traíra
pequena demais para se ferroar), pode se animar; pois comigo, nunca levou mais
que um hora para a “trairona” achar sua isca (geralmente leva de 5 a 20 minutos)!
Um conselho a
mais, quando o nó do líder chegar à ponteira, deixe a isca boiar antes de
acabar de recolher para lançar de novo. Aprendi isso na única vez que reunia as
condições para a “Técnica da Grande Traíra” (escuridão absoluta, aquela
escuridão de não ver a vara na mão) e voltei para casa sem peixe ou foto.
Depois que a isca passou pelo local promissor, recolhi rápido para poder lançar
de novo, mas ela acompanhou a isca e, quando eu tirei a isca da água, a “trairona”
tomou aquele susto (e me deu outro) ao me perceber. Com o susto, além do
desequilíbrio do barco, e sua virada para fugir, resultou numa explosão de água
a um metro de onde estava, que chegou a me respingar. Infelizmente, a “trairona”
não entrou mais naquele dia! Dois dias depois, na escuridão, entrou uma traíra
macho de 1.940 g
no mesmíssimo lugar (desgraçadamente, não tenho a foto).
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