segunda-feira, 13 de maio de 2013

Traíra / Wolf-Fish ( Hoplias malabaricus) - Parte 14


Pescando no inverno

A isca ideal para o inverno é uma artificial de meia água (tipo papa-black) de ação bem lenta, uma isca de fundo, ou uma isca viva. Não adianta usar uma isca parecida com uma traíra, pois o territorialismo não é forte no inverno por não ser época de reprodução! No inverno, as traíras viram “come-dormes (mais dorme que come)”, sendo absolutamente essencial prever onde e quando elas irão sair da loca para comer.

Como se satisfazem rapidamente (ou “empapuçam”), elas voltam imediatamente para a loca, e com isso, não haverá uma segunda chance! Trabalhar o mesmo lugar insistentemente, espantando os forrageiros (lambaris e outras presas). A isca tem que ser lenta e colocada no lugar certo, prevendo o momento em que vai escurecer (poucas vezes escurece mesmo, por causa da nebulosidade), e não faça nada que espante o predador! Um desafio! Ponderemos o assunto um pouco mais:

Todos os peixes, por serem “pecilotérmicos” se alimentam menos no inverno (sua temperatura acompanha as temperaturas ambientes, interferindo em seu metabolismo otimizado aos 24º a 26º C), ficando “preguiçosos” ou menos ativos. Com a traíra, isto ocorre quando a temperatura da água chega a 18º C, anulando os ataques aos 14º C (para uma temperatura considerada normal de 21º a 25º C). De noite, é normal que a temperatura da água seja superior à do ar, em até três ou quatro graus no início da noite e dois graus na alvorada. Na maior parte das vezes, podemos negligenciar este fator, entretanto, se estivermos em um inverno rigoroso (“meses sem R”, de maio a agosto), devemos preferir pescar no início da noite por ser mais quente. Especialmente quando está muito frio, as traíras procuram lugares rasos e sem correnteza, visto que a água mais fria está onde é mais profundo (e com correnteza), podendo ser pegas bem na “beiradinha” dos locais mais largos do rio (neste caso, eventualmente, com melhores resultados no anzol).

Como a temperatura da água cai durante a noite, mesmo na escuridão, podemos reconhecer o momento em que cessam as ações de traíras por estar frio demais. O uso de iscas artificiais só costuma dar bons resultados enquanto a temperatura da água permanece acima de uns 18º ou 20º C, quanto mais quente melhor. Lembrando que é com as iscas artificiais que freqüentemente pegamos as maiores traíras. Como a melhor hora de pescar traíras é sempre na escuridão (ou no crepúsculo, quando os lambaris agitados costumam “dar mole”), devemos estimar a temperatura da água para sabermos a melhor opção de pesca, pois com água fria, a pesca no anzol pode ser mais produtiva (até porque elas ficam bem na “beiradinha” sob a vegetação, um lugar onde as artificiais não alcançam se houver vegetação). Somente use as iscas artificiais apenas se a mínima da água ficar acima de 18º C (ideal seria acima de 22º). Com o frio, o uso de “shads” (isca de silicone, ou mesmo peixinhos iscados e trabalhados à semelhança de um shad), “grubs” (minhocas), “jigs”, e isca viva é especialmente recomendável, já que podem ser consideradas as iscas mais lentas.

Proporcionalmente a seu tamanho, peixes grandes são mais velhos e crescem menos, portanto comendo menos. As melhores chances para capturá-lo dependem da água estar mais quente. Convém observar que os limites de temperaturas apontados, que podem, ou não, ser favoráveis, não são válidos para todos os lugares. Genética esta, que varia de acordo com as temperaturas anuais registradas para o lugar.

Geralmente, o inverno é a época de encostar a tralha de pesca (ou de ir pescar muitos outros peixes...). Como a traíra não está reproduzindo, ela se enfia em uma loca para descansar. Poucas vezes dando uma volta para encontrar comida, já que até a digestão fica lenta, teremos raras oportunidades para capturá-la. Estas oportunidades certamente serão ao pôr do sol, ou quando escurecer mesmo. Mas se você se considera um “expert”, vale a pena encarar este desafio de pegar uma traíra que faça vista em pleno inverno. Para tanto, toda e qualquer condição favorável ou desfavorável deve ser levada em conta! Além de tudo que já foi dito, a principal consideração é sobre a luminosidade noturna, fator decisivo para o sucesso da pescaria, pois quando está escuro mesmo não tem jeito, vai dar peixe . Considerando que tudo esteja certo com os demais fatores (inclusive ausência de sol e lua), resta saber se haverá nebulosidade suficiente para refletir a luz de uma cidade próxima e iluminar o local de pesca.

Observei que, no inverno, ocorre um fenômeno curioso em relação à pesca de traíras . A falta de correnteza forte (pela ausência de grandes chuvas) favorece o crescimento da vegetação flutuante e as baixas temperaturas da água as tornam menos ativas, e com isso as iscas artificiais podem ser inadequadas para esta situação (exceto as iscas de fundo, às vezes em trabalho vertical quando no meio da vegetação).

Inclusive, porque as traíras preferem águas quase que paradas, onde a vegetação tende a se acumular por grandes extensões, a ponto de cruzar de uma margem a outra sem interrupção. Se isto aconteceu em algum lugar das águas onde você costuma achá-las, ou por qualquer motivo, a leitura das águas recomenda considerar a pesca sem iscas artificiais (onde as iscas artificiais não podem alcançar), considere a forma tradicional de pescá-las, pescar na batida, ou usar verticalmente iscas de fundo .

Assim como nós nos enfiamos embaixo de cobertores quando as condições ambientais não nos forem favoráveis, o mesmo ocorre com as traíras. No inverno, pesque quando e onde as condições sejam menos desfavoráveis, afinal, alguma hora e em algum lugar elas vão ter de comer (nem que seja uma vez a cada semana ou duas), e tudo isto é previsível! É imperativo conhecer o local e o peixe para pescar nestas épocas de frio e outras adversidades, pois o peixe se esconde (se enfia na loca, “caverninhas” no barro) e não importa o quanto se seja habilidoso, não vai dar peixe! Uma traíra só sai de lá se estiver com fome ou se as condições mudarem (principalmente se escurecer)... Geralmente; o nível da água abaixa e a correnteza diminui no inverno, e tudo isto deve ser levado em consideração para estimar onde as traíras se escondem...
A leitura das águas pode sofrer interferência da luminosidade noturna (se estiver frio, especialmente a claridade no começo da noite), seja por um luar ou por nebulosidade (que reflete a luz de uma cidade próxima), afetando a pesca durante o dia também. Se permanecer claro durante a noite toda, as traíras vão preferir (bem mais que o normal) locais com vegetação intensa (onde dificilmente se alcança sem um barco), pois estes locais oferecerão melhores chances ao predador, por ficar sempre escuro embaixo do capim “braquiára”. A pesca desembarcada com artificiais terá pouca chance de ser produtiva por não alcançar locais promissores, assim como a pesca embarcada será prejudicada por “não escurecer de vez” (condição para a “técnica da grande traíra”). Tente achar um local promissor com vegetação contígua a uma grande massa verde, e abuse de lançamentos um pouco mais longos, se for usar um barco.

As Marés E O Humor:

A influência direta da Lunação sobre o humor já foi atestada diversas vezes, inclusive por estudos científicos, em diversas áreas do conhecimento humano. Por exemplo, o corpo de bombeiro de Los Angeles verificou um aumento de até 3 vezes na incidência de incêndios criminosos durante as Luas cheia e vazia; índices semelhantes foram observados com suicídios, homicídios passionais, e outras maluquices... Quanto mais baixa a colocação do ser na escala evolutiva, maior esta influência (influencia mais vermes e insetos que um peixe, e influencia mais o peixe que o ser humano); pois seu comportamento terá maior proporção de instinto, em detrimento da inteligência (a força responsável por inibir os instintos, quando estes não favoreçam o indivíduo). Insetos e vermes se agitam nestes períodos, agitando os peixes forrageiros, que agitam os predadores... Em suma; desde a antiguidade, observou-se quê os impulsos primitivos são mais “irresistíveis” nos períodos citados; embora tal fato ainda permaneça obscuro em seus exatos mecanismos; portanto, pode ser mais fácil pescar um peixão ao meio dia da Lua nova, à meia noite da Lua cheia, ou nos 3 dias ao redor destes horários. No caso de uma grande traíra, seria na meia-noite de uma Lua nova o momento mais favorável do mês (unindo a influência da maré ao que já aprendemos sobre traíras); e a meia-noite de Lua cheia o segundo momento mais favorável.

Porém...; entre tais impulsos primitivos está, não apenas a agressividade e a fome, mas também o sono e o medo (de um encastoamento, de um pescador,...); portanto, outros fatores devem ser considerados como mais importantes que este tipo de influência, pois pode ser que o estímulo de dormir ou fugir seja reforçado por esta “maré biológica” (e não o instinto de se alimentar ou defender seu território, como gostaríamos). Adicionalmente, predadores em geral, comem até se fartar e “vão dormir (se enfiam na loca ou ficam pouco ativos)”; no caso da traíra, ela tende a não se expor indo aos limites da vegetação se puder ficar de barriga cheia na escuridão em baixo da vegetação (a não ser que tudo esteja escuro). Portanto, a maré biológica é mais importante na pesca de “peixes não-predadores”.

Admito que já peguei algumas traíras bem grandes ao redor da meia noite de Lua cheia, um horário não tão favorável assim por causa do luar. Mas, a maior dificuldade que a traíra encontra em se alimentar nesses dias de noites claras, pode também explicar esta receptividade à minha isca artificial (atacada quando eu a coloco em baixo da cicuta; assim não tem muito jeito, né?).

Eu só levo em conta a maré biológica quando está no inverno; e, por desafio, resolvo ir pescar assim mesmo. A pesca no inverno exige grande conhecimento e considerações para acertarmos o momento mais favorável (ou menos desfavorável), sendo cada detalhe decisivo.

Antes de esgotar este assunto, vale observar que esta influência lunar obedece às mesmíssimas regras das marés alta (a mais influente e favorável, quanto mais alta a maré melhor) e baixa; sendo uma dica usar uma tábua das marés (no caso do local de pesca não possuir uma tábua das marés, como ocorre no interior, use uma tábua de um local de mesma latitude; pois os horários das marés coincidirão). Se você não tiver acesso a uma tábua das marés; lembre-se de que a Lua tem 2 vezes a influência do Sol, e que a maré sobe quando um destes astros passa sobre o local, ou sobre o local diametralmente oposto da Terra. A maré morta ou maré de quarto ocorre quando temos o Sol e a Lua com 90º entre si, nas luas “enchendo” ou esvaziando”; nas Luas cheia e “vazia” suas forças gravitacionais se somam, fazendo as grandes marés.

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