quarta-feira, 24 de julho de 2013

Barragem do Castanhão: um paraíso ameaçado


Pesca predatória extermina famílias inteiras de tucunarés num local sagrado da espécie

Há alguns anos o Açude Castanhão vem se destacando no cenário da pesca esportiva nacional como um dos melhores pontos para pesca do tucunaré fora da Bacia Amazônica. A quantidade de peixes e, principalmente, o porte dos exemplares encontrados lá ainda não encontram comparativos com outros locais de pesca de tucunarés fora da Amazônia, e talvez até mesmo em alguns locais daquela região. Esse fato pode ser muito bem ilustrado pelo recorde capturado e registrado na IGFA do pescador Rômulo Patrick, um magnífico exemplar de tucunaré (Cichla Pinima) de 26 lb, ou 11,78 kg e 83 cm. Exemplares de porte entre 5 kg e 10 kg também não são incomuns no açude.

A pesca amadora vem colocando toda a região da barragem em destaque, atraindo turistas e pescadores de todo pais, estimulando o interesse turístico em geral na região e gerando emprego, renda para população e divisas para os municípios do entorno da barragem. Fato que acontece em muitas outras regiões do país com potencial para pesca esportiva.

Infelizmente essa barragem maravilhosa e única esta seriamente ameaçada. Há alguns anos o Castanhão vem sofrendo uma crescente agressão promovida pela pesca predatória e pela pesca profissional desenfreada, principalmente pela pesca de arpão com fins comerciais.

O perfil mais comum dos praticantes desse crime contra o meio ambiente, e contra a economia local, é de pescadores profissionais contradados por “armadores” que organizam “grupos” de até 30 – 40 pescadores, que ficam acampados semanas nas margens da barragem, pescando de forma continua e retirando toneladas de pescado semanalmente. Esses grupos são geralmente de outros estados como Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Maranhão e, logicamente também do Ceará. Pescam de todas as formas possíveis como redes (dentro e fora das malhas permitidas), anzol e principalmente arpão, o que é absolutamente proibido pelas leis de nosso país e do Estado do Ceará, visto que ambos vetam a pesca subaquática com fins comerciais em águas interiores.

Isso é um crime ambiental grave, que está dizimando os estoques pesqueiros do Castanhão, notadamente do tucunaré. Espécimes de tucunaré de grande porte são os mais cobiçados, mas qualquer outra espécie como tambaquis, tilápias, pescadas, piaus, curimatãs e mesmo pirarucus são caçados a exaustão, aos olhos de todos que navegam pelo Castanhão.

Esse tipo de crime ambiental, caso não seja combatido de forma imediata, acabará tornando o Açude do Castanhão uma barragem morta, sem nenhum atrativo para a pesca esportiva e ameaçando mesmo a pesca legal praticada pela população pesqueira local. Os praticantes dessa verdadeira devastação já promoveram isso repetidamente em outras barragens da Região Nordeste, que tinham um grande potencial para exploração sustentável do turismo da pesca esportiva e simplesmente se tornaram açudes “comuns”, sem o menor potencial turístico e com seus estoques naturais praticamente devastados como vemos na Barragem de Coremas – PB, na Barragem do Açú – RN (Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves), o Açude do Orós – CE e tantas outras pelo Nordeste.

As autoridades locais, estimuladas e cobradas pela APEECE – Associação de Pesca Esportiva do Estado do Ceará – são sensíveis ao problema e vem mostrando comprometimento com ações de fiscalização. O problema é que o volume dessas ações ainda é extremamente tímido comparado ao tamanho da ameaça e intensidade das ações predatórias e ilegais no Castanhão. Não há ainda uma integração dos diversos orgãos responsáveis pela fiscalização ambiental da barragem, quer seja nas águas do Castanhão, quer seja nas estradas da região e do Estado do Ceará.

O Açude do Castanhão, caso não tenha ações de defesa imediatas, efetivas e constantes, são suportará o atual nível de agressão. Temos visto isso de forma muito clara com a diminuição do volume de tucunarés capturados hoje e com a constante e ininterrupta presença de mergulhadores, que pescam com fins comerciais nas águas da barragem. Não há lugar que resista a isso por muito tempo. Os exemplos do fim disso já foram citados e todos já conhecem.

É preciso que aconteça já a presença dos órgãos de fiscalização estaduais e federais com o fim de mudarem essa realidade de forma imediata, sob pena de o Brasil perder um tesouro, o Estado do Ceará perder um destino turístico incomparável e o povo dos municípios de Jaguaribara e entorno do Castanhão perderem a uma grande oportunidade de se desenvolverem e trazerem emprego e renda para sua população.


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