Pesca da Tainha – Inovação por pescadores artesanais de Santa Catarina
Como esta arte de pesca não estava prevista
na legislação, o MPA editou então uma instrução normativa para regularizar a
situação. (24/05/2013)
Uma vez por ano,
por 75 dias (entre 15 de maio e 30 de julho), o Governo Federal libera a pesca da
tainha (Mugil platanus), ao longo da costa dos estados de Santa Catarina,
Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao contrário da grande maioria das
espécies, a liberação, no caso da tainha, é tradicionalmente feita durante o
seu período reprodutivo, quando os cardumes aproveitam as correntes de água
fria provenientes da Antártida para subir o litoral Sul e Sudeste do Brasil,
onde se reproduzem e desovam, até à altura de Cabo Frio. Neste ponto há o
choque com outra corrente, de águas quentes, proveniente da África.
Na terça-feira
(21) desta semana o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) reconheceu e
liberou uma inovação técnica na pesca da tainha em Santa Catarina , que
aumenta a produtividade na captura, como explica o engenheiro de pesca Ivan
Furtado Júnior, coordenador de Planejamento e Ordenamento da Pesca Industrial e
Costeira do MPA.
Nos últimos
anos, os pescadores artesanais do estado, que trabalham entre os 800 metros e os oito
quilômetros (cinco milhas) da costa, adicionaram um complemento à tradicional
rede de emalhe. Agora, esta rede conta, em sua parte inferior, com anéis que
seguram cabos ou cordas, que podem se fechar, como ocorre na rede de cerco.
Assim, a nova rede, com aproximadamente 500 metros de extensão,
combina a eficácia do emalhe com a arte do cerco. Se as tainhas pequenas
escapam, como sempre, pela malha, as de tamanho médio ficam presas nos losangos
de fios pelo opérculo (guelras) ou pelo corpo. As tainhas grandes, que antes
escapavam, porém, ficam presas no interior da rede fechada.
Como esta arte
de pesca não estava prevista na legislação, o MPA editou então uma instrução
normativa para regularizar a situação. A medida beneficia aproximadamente 200
pescadores artesanais. Ao todo, porém, aproximadamente três mil pescadores em Santa Catarina se
dedicam à pesca da tainha, uma espécie batizada popularmente com cerca de 50
nomes diferentes.
Arrasto de praia
A maioria dos
pescadores artesanais captura a espécie através do “arrasto de praia”, uma
modalidade de pesca que justifica as “festas da tainha” em diversas localidades
costeiras de Santa Catarina. Neste caso, pequenas canoas a remo levam a rede
até no máximo a 800
metros da linha de praia, onde a captura por arrasto é
praticada e permitida.
A rede, com
aproximadamente 800
metros de comprimento, então é puxada, em seus dois
extremos, por um bom número de pescadores e voluntários. Na praia o botim é
dividido fraternalmente, para a alegria de todos. Bem distante dali, a partir
de cinco milhas da costa, a tainha é capturada apenas por embarcações
industriais, que utilizam o método de cerco. A previsão, segundo Ivan Furtado,
é que a safra da pesca artesanal deste ano em Santa Catarina seja
de aproximadamente 1.200 toneladas. A produção é voltada para o mercado
interno. Entretanto, o mais valioso na tainha não é a sua saborosa carne, mas
sim as suas ovas, que são mesmo exportadas para a Europa, como o legítimo caviar
nacional.
As tainhas que
resistem a tantas armadilhas em seu percurso garantem a continuidade do ciclo
anual. No mar, as ovas são liberadas pelas fêmeas e fertilizadas pelos machos.
A espécie Mugil platanus apresenta outra curiosidade. Os seus indivíduos podem
apresentar, aqui e ali, pequenas diferenças morfológicas, como nadadeiras
dorsais em posições ligeiramente afastadas.
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