Pescando no inverno
A isca ideal
para o inverno é uma artificial de meia água (tipo papa-black) de ação bem
lenta, uma isca de fundo, ou uma isca viva. Não adianta usar uma isca parecida
com uma traíra, pois o territorialismo não é forte no inverno por não ser época
de reprodução! No inverno, as traíras viram “come-dormes (mais dorme que come)”,
sendo absolutamente essencial prever onde e quando elas irão sair da loca para
comer.
Como se
satisfazem rapidamente (ou “empapuçam”), elas voltam imediatamente para a loca,
e com isso, não haverá uma segunda chance! Trabalhar o mesmo lugar
insistentemente, espantando os forrageiros (lambaris e outras presas). A isca
tem que ser lenta e colocada no lugar certo, prevendo o momento em que vai
escurecer (poucas vezes escurece mesmo, por causa da nebulosidade), e não faça
nada que espante o predador! Um desafio! Ponderemos o assunto um pouco mais:
Todos os peixes,
por serem “pecilotérmicos” se alimentam menos no inverno (sua temperatura
acompanha as temperaturas ambientes, interferindo em seu metabolismo otimizado
aos 24º a 26º C), ficando “preguiçosos” ou menos ativos. Com a traíra, isto
ocorre quando a temperatura da água chega a 18º C, anulando os ataques aos 14º
C (para uma temperatura considerada normal de 21º a 25º C). De noite, é normal
que a temperatura da água seja superior à do ar, em até três ou quatro graus no
início da noite e dois graus na alvorada. Na maior parte das vezes, podemos
negligenciar este fator, entretanto, se estivermos em um inverno rigoroso (“meses
sem R”, de maio a agosto), devemos preferir pescar no início da noite por ser
mais quente. Especialmente quando está muito frio, as traíras procuram lugares
rasos e sem correnteza, visto que a água mais fria está onde é mais profundo (e
com correnteza), podendo ser pegas bem na “beiradinha” dos locais mais largos
do rio (neste caso, eventualmente, com melhores resultados no anzol).
Como a
temperatura da água cai durante a noite, mesmo na escuridão, podemos reconhecer
o momento em que cessam as ações de traíras por estar frio demais. O uso de
iscas artificiais só costuma dar bons resultados enquanto a temperatura da água
permanece acima de uns 18º ou 20º C, quanto mais quente melhor. Lembrando que é
com as iscas artificiais que freqüentemente pegamos as maiores traíras. Como a
melhor hora de pescar traíras é sempre na escuridão (ou no crepúsculo, quando
os lambaris agitados costumam “dar mole”), devemos estimar a temperatura da
água para sabermos a melhor opção de pesca, pois com água fria, a pesca no
anzol pode ser mais produtiva (até porque elas ficam bem na “beiradinha” sob a
vegetação, um lugar onde as artificiais não alcançam se houver vegetação).
Somente use as iscas artificiais apenas se a mínima da água ficar acima de 18º
C (ideal seria acima de 22º). Com o frio, o uso de “shads” (isca de silicone,
ou mesmo peixinhos iscados e trabalhados à semelhança de um shad), “grubs” (minhocas),
“jigs”, e isca viva é especialmente recomendável, já que podem ser consideradas
as iscas mais lentas.
Proporcionalmente
a seu tamanho, peixes grandes são mais velhos e crescem menos, portanto comendo
menos. As melhores chances para capturá-lo dependem da água estar mais quente.
Convém observar que os limites de temperaturas apontados, que podem, ou não,
ser favoráveis, não são válidos para todos os lugares. Genética esta, que varia de acordo com as temperaturas anuais registradas para
o lugar.
Geralmente, o
inverno é a época de encostar a tralha de pesca (ou de ir pescar muitos outros
peixes...). Como a traíra não está reproduzindo, ela se enfia em uma loca para
descansar. Poucas vezes dando uma volta para encontrar comida, já que até a
digestão fica lenta, teremos raras oportunidades para capturá-la. Estas
oportunidades certamente serão ao pôr do sol, ou quando escurecer mesmo. Mas se
você se considera um “expert”, vale a pena encarar este desafio de pegar uma
traíra que faça vista em pleno inverno. Para tanto, toda e qualquer condição
favorável ou desfavorável deve ser levada em conta! Além de tudo que já foi
dito, a principal consideração é sobre a luminosidade noturna, fator decisivo
para o sucesso da pescaria, pois quando está escuro mesmo não tem jeito, vai
dar peixe . Considerando que tudo
esteja certo com os demais fatores (inclusive ausência de sol e lua), resta
saber se haverá nebulosidade suficiente para refletir a luz de uma cidade
próxima e iluminar o local de pesca.
Observei que, no
inverno, ocorre um fenômeno curioso em relação à pesca de traíras . A falta de correnteza forte (pela ausência de
grandes chuvas) favorece o crescimento da vegetação flutuante e as baixas
temperaturas da água as tornam menos ativas, e com isso as iscas artificiais
podem ser inadequadas para esta situação (exceto as iscas de fundo, às vezes em
trabalho vertical quando no meio da vegetação).
Inclusive,
porque as traíras preferem águas quase que paradas, onde a vegetação tende a se
acumular por grandes extensões, a ponto de cruzar de uma margem a outra sem
interrupção. Se isto aconteceu em algum lugar das águas onde você costuma
achá-las, ou por qualquer motivo, a leitura das águas recomenda considerar a
pesca sem iscas artificiais (onde as iscas artificiais não podem alcançar),
considere a forma tradicional de pescá-las, pescar na batida, ou usar
verticalmente iscas de fundo .
Assim como nós
nos enfiamos embaixo de cobertores quando as condições ambientais não nos forem
favoráveis, o mesmo ocorre com as traíras. No inverno, pesque quando e onde as
condições sejam menos desfavoráveis, afinal, alguma hora e em algum lugar elas
vão ter de comer (nem que seja uma vez a cada semana ou duas), e tudo isto é
previsível! É imperativo conhecer o local e o peixe para pescar nestas épocas
de frio e outras adversidades, pois o peixe se esconde (se enfia na loca,
“caverninhas” no barro) e não importa o quanto se seja habilidoso, não vai dar
peixe! Uma traíra só sai de lá se estiver com fome ou se as condições mudarem (principalmente
se escurecer)... Geralmente; o nível da água abaixa e a correnteza diminui no
inverno, e tudo isto deve ser levado em consideração para estimar onde as
traíras se escondem...
A leitura das
águas pode sofrer interferência da luminosidade noturna (se estiver frio,
especialmente a claridade no começo da noite), seja por um luar ou por
nebulosidade (que reflete a luz de uma cidade próxima), afetando a pesca
durante o dia também. Se permanecer claro durante a noite toda, as traíras vão
preferir (bem mais que o normal) locais com vegetação intensa (onde
dificilmente se alcança sem um barco), pois estes locais oferecerão melhores
chances ao predador, por ficar sempre escuro embaixo do capim “braquiára”. A
pesca desembarcada com artificiais terá pouca chance de ser produtiva por não alcançar
locais promissores, assim como a pesca embarcada será prejudicada por “não
escurecer de vez” (condição para a “técnica da grande traíra”). Tente achar um
local promissor com vegetação contígua a uma grande massa verde, e abuse de
lançamentos um pouco mais longos, se for usar um barco.
As Marés E O Humor:
A influência
direta da Lunação sobre o humor já foi atestada diversas vezes, inclusive por
estudos científicos, em diversas áreas do conhecimento humano. Por exemplo, o
corpo de bombeiro de Los Angeles verificou um aumento de até 3 vezes na
incidência de incêndios criminosos durante as Luas cheia e vazia; índices
semelhantes foram observados com suicídios, homicídios passionais, e outras
maluquices... Quanto mais baixa a colocação do ser na escala evolutiva, maior
esta influência (influencia mais vermes e insetos que um peixe, e influencia
mais o peixe que o ser humano); pois seu comportamento terá maior proporção de
instinto, em detrimento da inteligência (a força responsável por inibir os
instintos, quando estes não favoreçam o indivíduo). Insetos e vermes se agitam
nestes períodos, agitando os peixes forrageiros, que agitam os predadores... Em
suma; desde a antiguidade, observou-se quê os impulsos primitivos são mais
“irresistíveis” nos períodos citados; embora tal fato ainda permaneça obscuro
em seus exatos mecanismos; portanto, pode ser mais fácil pescar um peixão ao
meio dia da Lua nova, à meia noite da Lua cheia, ou nos 3 dias ao redor destes
horários. No caso de uma grande traíra, seria na meia-noite de uma Lua nova o
momento mais favorável do mês (unindo a influência da maré ao que já aprendemos
sobre traíras); e a meia-noite de Lua cheia o segundo momento mais favorável.
Porém...; entre
tais impulsos primitivos está, não apenas a agressividade e a fome, mas também
o sono e o medo (de um encastoamento, de um pescador,...); portanto, outros
fatores devem ser considerados como mais importantes que este tipo de
influência, pois pode ser que o estímulo de dormir ou fugir seja reforçado por
esta “maré biológica” (e não o instinto de se alimentar ou defender seu
território, como gostaríamos). Adicionalmente, predadores em geral, comem até
se fartar e “vão dormir (se enfiam na loca ou ficam pouco ativos)”; no caso da
traíra, ela tende a não se expor indo aos limites da vegetação se puder ficar
de barriga cheia na escuridão em baixo da vegetação (a não ser que tudo esteja
escuro). Portanto, a maré biológica é mais importante na pesca de “peixes
não-predadores”.
Admito que já
peguei algumas traíras bem grandes ao redor da meia noite de Lua cheia, um
horário não tão favorável assim por causa do luar. Mas, a maior dificuldade que
a traíra encontra em se alimentar nesses dias de noites claras, pode também
explicar esta receptividade à minha isca artificial (atacada quando eu a coloco
em baixo da cicuta; assim não tem muito jeito, né?).
Eu só levo em
conta a maré biológica quando está no inverno; e, por desafio, resolvo ir
pescar assim mesmo. A pesca no inverno exige grande conhecimento e
considerações para acertarmos o momento mais favorável (ou menos desfavorável),
sendo cada detalhe decisivo.
Antes de esgotar
este assunto, vale observar que esta influência lunar obedece às mesmíssimas
regras das marés alta (a mais influente e favorável, quanto mais alta a maré
melhor) e baixa; sendo uma dica usar uma tábua das marés (no caso do local de
pesca não possuir uma tábua das marés, como ocorre no interior, use uma tábua
de um local de mesma latitude; pois os horários das marés coincidirão). Se você
não tiver acesso a uma tábua das marés; lembre-se de que a Lua tem 2 vezes a
influência do Sol, e que a maré sobe quando um destes astros passa sobre o
local, ou sobre o local diametralmente oposto da Terra. A maré morta ou maré de
quarto ocorre quando temos o Sol e a Lua com 90º entre si, nas luas “enchendo”
ou esvaziando”; nas Luas cheia e “vazia” suas forças gravitacionais se somam,
fazendo as grandes marés.
Muito bom, gostei muito das dicas. Parabéns!
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