AS ISCAS ARTIFICIAIS
Não tenho a
pretensão de relacionar todas as iscas capazes de atrair uma traíra (a
princípio, qualquer isca artificial serve), mas sugerir e orientar na escolha
de qual isca serve para qual situação e tamanho de traíra. O mais importante é
aprender a escolher, saber trabalhar e saber o quê esperar de cada isca, pois
são tantas as iscas artificiais que nem sendo vendedor para conhecê-las todas. Por regra: se a isca parecer viva e em dificuldade, será uma boa
isca; e se ela puder ser colocada na cara da traíra será uma ótima isca!
Resumidamente,
eu recomendo não sair de casa sem uma
isca de superfície “esporrenta (barulhenta)” e uma de meia-água. Use
uma isca de meia-água se puder passá-la por baixo da vegetação, e na escuridão ;
e use uma de superfície se o local for favorável mas houver luz, se a vegetação
promissora for excessiva, e quando não for possível usar uma de meia-água por
baixo da vegetação.
Existe uma enorme diferença em usar uma
linha de multifilamento (com elasticidade em torno de 4 – 5%; mais
recomendável para uso em carretilha, ou com molinete com guia de linha
rolamentado; pois terá pouca durabilidade em molinete comum) e uma de monofilamento (22 – 30%; 5 ou
6 vezes mais elástica).
Com uma linha de
multifilamento, se ferroa muito mais
fácil; tornando iscas como as de superfície (que têm muitas perdas,
principalmente com monofilamento...) muito recomendáveis e com poucas perdas
(quase que não se perde traíras grandes com uma pequena isca de meia-água,
independentemente da linha utilizada). Iscas que ferroem fora da boca, ou de
garatéias grandes; serão especialmente beneficiadas com o uso de
multifilamento! Este assunto será melhor abordado em outro artigo...
Analisemos o
assunto mais a fundo:
As iscas de
Superfície:
Uma isca de
superfície é minha segunda opção (uma de meia-água é a minha primeira opção,
mas apenas se for possível trabalhá-la embaixo da vegetação). Mas existem
situações em que é impossível colocar uma isca de meia-água “na cara da traíra
(com sua passagem por baixo da vegetação)”, quando as iscas de superfície são
muito mais promissoras que uma de meia-água. É recomendável que haja pouco vento e os demais fatores favoráveis
(é uma isca recomendável para muitas situações com luz). Iscas de superfície possuem
alto índice de perdas, tão altos como metade dos ataques quando se usa
linha de monofilamento! Isto ocorre por causa da boca da traíra, que é
extremamente dura e as garatéias só vão perfurar a sua boca se houver uma boa
força de ferroada; dependendo da espessura da garatéia e ferrão (a garatéia deve ser grande para evitar
perder, e fininha para facilitar a penetração). Outros fatores que ajudam a
ferrar são: vara
rápida, ferrar sem exagero (só firmando a vara no mais das
vezes...), dar um toquinho a mais no exato momento em que a isca estiver sendo
atacada por trás (com isso você expõe a garatéia traseira e ela pode ser
engolida), e garatéias fininhas (1 X, ou no máximo 2 X) e largas (wide gap).
Nota: o uso de um monofilamento grosso e fricção
apertada; ou melhor ainda, uma linha de multifilamento, será de grande ajuda
para penetrar a boca da traíra, por dar uma maior força (ou melhor
dizendo, ”impacto”) de ferrada! Uma linha de multifilamento pode quase que
anular essa dificuldade em penetrar a boca da traíra...; mas eu desaconselho
usar multifilamento com molinete comum, devendo este molinete ter um guia de
linha com rolamento...
Portanto, iscas
de superfície são mais recomendáveis para chamar a atenção de peixes que verdadeiramente
correm atrás (como o tucunaré; que ainda tem uma “boca bem mais fina”, bem mais
fácil de perfurar) por isso mesmo, sempre tenha a mão um “plug” de barbela
curta, para os que errarem o ataque, para os que não atacam, ou para os que
escaparem por não morderem a isca direito devido ao trabalho errático (iscas de
superfície têm sempre mais perdas que os outros tipos de isca).
Alguns cenários
para que uma isca de superfície funcione muitíssimo bem para traíras:
Em locais
excessivamente rasos, mas ainda assim promissores.
Por vezes, se vê uma traíra “dormindo” com as costas
na superfície da água, sempre bem na beiradinha e em local com vegetação
marginal flutuante (“santa luzia” ou outra). Se você vir uma traíra nesta
situação, recue imediatamente antes que a traíra perceba sua presença! Como
o local é muito raso e a traíra está dormindo, será necessário trocar a isca
para uma de superfície bem barulhenta e lenta (popper + hélice). Comece o
trabalho passando a isca de 1,5
a 2 m
da traíra para não espantá-la (ela pode “cair da cama” e pensar estar sendo
atacada, dê-lhe a chance de avaliar a isca antes), e então passe a isca a menos
de um metro (quando a isca será atacada com um bote, sem aproximação).
Quando se quer
chamar a atenção da predadora e irritá-la (processo conhecido como
“prospecção”, quando atraímos o peixe para onde se quer que ele esteja) ela
pode ser a única isca capaz de provocar um ataque, quando a vegetação é
excessivamente extensa e queremos chamar a atenção das predadoras que estejam
sob ela (e então, se escaparem à isca de superfície, tentar capturá-las com uma
isca de meia-água).
Quando dois pescadores estão juntos um usa
uma isca de superfície atraindo as traíras, e o outro segue a isca de
superfície com uma isca de meia-água.
Na completa
escuridão, quando uma traíra ataca qualquer coisa que chame a atenção e não
esteja muito distante (tem de trabalhar perto da traíra mesmo na escuridão).
Use, uma isca pequena (uns 5 cm )
que, embora menos chamativa; ferroa muito melhor, resultando em muito menos
perdas.
Antes do Sol se
pôr ou com luminosidade qualquer; quando é a melhor isca para ser usada, se não
for possível passar um plug de barbela curta por baixo da vegetação!
Um macete:
para evitar que a traíra morda apenas a cabeça da isca, basta dar um “tranquinho”
ao perceber o bote, pois isto tira a cabeça da isca da boca da traíra e expõe a
traseira da isca ao ataque; quando a traíra ataca por trás, este toquinho a
mais se torna essencial. Um tranco também serve para ferroar a traíra que tem
uma boca muito dura.
Observação: Penso eu que uma isca de
superfície seja tão capaz de provocar um ataque por que sempre que uma traíra (ou
outro predador) ataque uma presa na superfície, esta se revele uma presa
relativamente fácil...; seja uma rã, uma ave, um roedor,...; o lambari é uma
presa bem mais difícil do que possa
Hélice + Popper (ou
outra isca “superbarulhenta”): Na escuridão, quando a traíra estará
tendendo a atacar quase tudo que perceba (no geral, ela não sai de onde está
por causa de uma presa, mas a ataca se ela estiver dentro de sua “janela de
ação”; ela percebe muito e ataca pouco, de acordo com sua avaliação da presa). Se
a traíra escapar, é muito difícil que ataque esta mesma isca novamente, devendo-se recorrer a “papa-black” ou outra
isca (de meia-água ou de fundo, já que qualquer dessas certamente será
atacada reiteradamente).
Uma excelente idéia é transformar uma
isca de hélice (melhor “hélice + popper”) em um “stick” (melhor chamada de isca
“splash” por parar em 45º com a água. O “stick” pára mais na vertical ainda),
mantendo as hélices funcionais. É só aumentar o peso da garatéia traseira com
chumbo em fio (enrolando na haste ou na argola da garatéia trazeira); ou
melhor, aumentar a garatéia (trocá-la por uma de maior tamanho, mas que não
seja muito grossa; pode ser necessário trocar a garatéia dianteira por uma mais
leve ou por um anzol). A “popper-hélice-splash” é uma das melhores iscas de
superfície não apenas para traíras! Mas insisto em afirmar que as
iscas de meia água dão melhores resultados, quando for possível usá-las
corretamente.
Um exemplo de
isca de superfície interessante é a MORO ROBALO BAIT POPPER TURBO (11 gramas , 8 centímetros ).
Com “popper” e uma hélice traseira, embora suas garatéias originais beirem ao
ridículo... Ela se tornará uma excelente “splash” após serem trocadas as
garatéias por outras maiores ! Se for fazer esta modificação, observe que a
isca deve boiar com o “popper” fora Da água (só o “popper” !), e que a garatéia
traseira fica melhor se for “ornada” com cabelo de boneca. Seu trabalho é de puxadinhas e paradinhas alternadas. As paradinhas são
pouco mais longas do que o suficiente para a isca assumir a posição vertical
(ficar parada). Pode-se alternar seu trabalho “normal” com a “catimba ou
catimbinha (meu trabalho favorito, toques curtíssimos que produzem a
sensação de um bicho se afogando; este trabalho só dá certo com um stick ou com
uma splash)”. Observe que ela não é
capaz de rebolar como uma “twitchbait” ou uma “zara”, pois a hélice e o popper
(mesmo sem o cabelo de boneca na garatéia traseira) não o permite.
Eu considero
que o trabalho do popper tem 3 formas básicas:
1. "a catimbinha (toques rápidos,
ininterruptos, e bem curtinhos mesmo; como se a isca estivesse se
afogando)";
2. "a catimba (toques curtos a cada 2
segundos; mas usando o movimento da isca, enquanto ela volta a sua posição de
repouso, para com o mínimo de toques manter a isca em movimento
contínuo)";
3. "popper (verdadeiras “porradas” de
uns 20 centímetros
para que a isca faça todo barulho que pode... e deixar a isca boiar por 3
segundos antes da próxima puxada; a isca fica a maior parte do tempo em
movimento)"
Observações:
Qualquer destes
trabalhos funciona melhor se a isca é do
tipo que bóia mais na vertical (pode e deve-se aumentar as garatéias, desde
que se teste a flutuação da isca)... Que
esta isca sempre deva ser trabalhada com toques secos, variando o recolhimento
a cada toque e o intervalo entre os toques. (você tem uma “graaande”
liberdade para trabalhar...);
Que esta isca é uma das mais eficientes,
produtivas, e "esporrentas" que existe!
Esta isca pode
ter ou não uma hélice simples associada ao popper, desde que a isca não seja
muito pequena (quando o peso da hélice prejudica a flutuação).
Atenção!!!
Para poder ferroar eficazmente traíras
com iscas de superfície, é essencial usar garatéias grandes e fininhas; e
também a fricção apertada (melhor se usar linha de multifilamento), podendo dar
uma boa ferrada quando perceber o ataque! Quem
está acostumado a usar iscas de superfície para tucunarés, perceberá que a boca
da traíra é infinitamente mais dura e difícil de atravessar (isto se
reflete nas perdas...)!
Existem outras iscas de superfície como uma
zara (que possui o maior número de perdas que eu já vi, embora seja a
favorita de muitos...)... O importante é
experimentar iscas diferentes, e ver com qual você se adapta melhor!
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