sexta-feira, 17 de maio de 2013

Traíra / Wolf-Fish ( Hoplias malabaricus) - Parte 18


Técnica da Grande Traíra



Basicamente, a “Técnica da Grande Traíra” se resume a “eleger” um local como a morada da grande traíra (vegetação densa e perene, rasante...) identificar o local mais próximo a este que seja raso e cercado de vegetação favorável para o ataque de uma isca artificial, “apoitar” o barco (é pouco provável que este local esteja ao alcance de um lançamento da margem) em um local desfavorável (vegetação errada como apenas o capim “braquiára”, ou fundo demais) que nos permita lançar no local do ataque. E ficar lançando até que escureça e “o bicho” venha fazer nossa alegria. Falando desse jeito até parece fácil... Em outras palavras, a “Técnica da Grande Traíra” é a excelência de lugar, trabalho de isca, e momento; objetivando pescar uma traíra que, de outra forma, estaria fora de nosso alcance.

A leitura das águas é primordial, pois de nada adianta tanto esforço se não for para botar a isca na cara do peixe. Você não vai pegar uma traíra maior ou menor do que aquela que está naquele local!

Quando escurecer de vez, a única hora em que uma traíra ficará rodando (se houver alguma luminosidade ainda será possível que ela rode, mas só embaixo de vegetação bem fechada e na sua sombra), lançar sempre no mesmo lugar, onde for mais promissor, despertará a atenção da predadora (pelo “pop” da isca caindo na água e pelo “rattling” – chocalho), exigindo sua atenção para uma potencial invasão de seu território, além de facilitar que ela se posicione para dar o bote.

Isto de arremessar no mesmo local é necessário porque a traíra estará em um local com muita vegetação e longe de nossas iscas! Temos de chamar sua atenção!

Uma outra função dos repetitivos “pops” é afastar os lambaris daquele local, forçando “nosso objetivo (a grande traíra)” procurar um pouco mais por comida. Ajuda, portanto, se já estivermos lá antes que escureça completamente (ou mesmo ao pôr do sol, antes do fim da “hora da mosquitada”, quando os lambaris irão se esconder na vegetação), pois estaremos treinados ao lançamento que deverá ser feito quando não mais pudermos enxergar onde estaremos lançando (se você estiver enxergando, é porque ainda está claro), e afastaremos as potenciais presas, deixando a traíra de barriga vazia e mais receptiva à isca. Botar uma isca a 1 m (ou menos) da vegetação, reiteradamente e sem enxergar, exige muita habilidade! É um desafio!

Se chegarmos de barco depois que escurecer de vez, não acertaremos o lançamento (a menos que você use a “força, aquela do filme Star Wars” kakakaka!) e estaremos espantando a traíra que acabou de “acordar”. Observe que ela pode estar desacostumada a sair de baixo da vegetação, mesmo na escuridão, o que significa que lançamentos precisos e um trabalho lento podem fazer a diferença (a velocidade ideal de recolhimento também deve ser memorizada).

Fique em silêncio, não faça nenhum barulho que permita ao peixe saber que você está lá, e evite qualquer iluminação (até mesmo um cigarro aceso, acender a luz do relógio, objetos fluorescentes ou de cores claras...), exceto para tirar o peixe. Use roupas bem escuras para evitar que o peixe o veja e refugue. Não preciso dizer que qualquer luz, ou barulho que não seja a isca caindo na água, denunciará nossa presença, por isso, não estrague o pesqueiro! Aprenda a trabalhar no escuro mantendo a tralha em ordem.

Para melhores resultados na escuridão absoluta, quando não estaremos enxergando (às vezes não dá nem para enxergar a vara na nossa mão), recomendo o uso de um barco pequeno posicionado antes do momento em que tudo escureça de vez (aí, tudo deve estar parado, exceto a isca). O barco pode ter âncora ou ser “travado” na vegetação; para isto, use o remo energicamente, com o peso para trás e sua proa ficará meio presa na vegetação, e sua popa, a melhor parte do barco para ficarmos por ser mais larga, ficará em direção a água.

Pode-se amarrar o barco na vegetação, sendo um chumaço de capim “braquiára” a melhor amarra. Cuidado para não bater no barco. O barulho de um remo dentro da água batendo no barco soará como um estrondo, espantando os peixes. Posicione o barco em um local fundo o suficiente para não ser promissor (ou com vegetação inadequada, por exemplo, a “braquiára”) e lance em direção ao local promissor, isto evita ser percebido pelo peixe.

Se não tiver barco, não fique triste! As traíras costumam “patrulhar” a vegetação (apenas na escuridão) e podem ser pegas de qualquer lugar, bastando, para isso, paciência. Novamente, atirar no mesmo lugar costuma atrair as predadoras (processo conhecido como “prospecção, isto é, atrair o peixe para onde nós o queremos”, funciona com outros peixes predadores também).

Evite acender uma lanterna, a menos que seja para tirar o peixe da água, evite iluminar por pouco que seja o local promissor. Para quem enxerga bem com luz de estrelas, uma lanterna...

Preste atenção ao que acontece ao seu redor! Ocasionalmente, uma grande traíra (supostamente de barriga cheia e voltando para seu local de descanso) passa ao largo; sendo percebida pela sutil, mas característica perturbação criada na superfície da água. Ela toca gentilmente a superfície com o dorso (especialmente em um rasante), pois nada vagarosa e distraidamente, e faz “ondinhas” que nos dizem para que direção ela esteja indo. É só jogar a isca depois dela e fazê-la passar na sua frente.

Como já foi dito, se a isca passar na sua cara (distância inferior a 1 metro) e parecer viva e em dificuldade (uma presa fácil), ela não negará um bote. Interessante comentar que apenas após estarmos na completa escuridão por mais de uma hora, é que devemos nos abalar com esse tipo de movimento ao largo, caso contrário, a menos que seja típico, será apenas um outro peixe qualquer, ou ainda um morcego que bebe água.

Uma das coisas que fazem essa técnica ser de difícil execução é a escolha do momento, pois a nebulosidade (neblina) parece ter aumentado de uns tempos para cá, tornando-se regra (por causa do aquecimento global), agravado pelo uso extensivo de luzes de mercúrio (umas meio-vermelhas, que provocam clarão ainda maior). Quanto mais quente, quanto menos nuvens, e quanto menor a umidade relativa do ar, menor será a nebulosidade.

Acompanhe o halo que se forma ao redor de uma luz de um poste (se estiver na cidade) ou o clarão no horizonte que ilumina o local de pesca (conforme explicado anteriormente...).

Se você estiver pescando neste local de intensa vegetação e sentir uma “batidinha” (uma traíra pequena demais para se ferroar), pode se animar; pois comigo, nunca levou mais que um hora para a “trairona” achar sua isca (geralmente leva de 5 a 20 minutos)!

Um conselho a mais, quando o nó do líder chegar à ponteira, deixe a isca boiar antes de acabar de recolher para lançar de novo. Aprendi isso na única vez que reunia as condições para a “Técnica da Grande Traíra” (escuridão absoluta, aquela escuridão de não ver a vara na mão) e voltei para casa sem peixe ou foto. Depois que a isca passou pelo local promissor, recolhi rápido para poder lançar de novo, mas ela acompanhou a isca e, quando eu tirei a isca da água, a “trairona” tomou aquele susto (e me deu outro) ao me perceber. Com o susto, além do desequilíbrio do barco, e sua virada para fugir, resultou numa explosão de água a um metro de onde estava, que chegou a me respingar. Infelizmente, a “trairona” não entrou mais naquele dia! Dois dias depois, na escuridão, entrou uma traíra macho de 1.940 g no mesmíssimo lugar (desgraçadamente, não tenho a foto).

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